Samantha Crain


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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Infelizmente, o mundo não pode ir à Sistina

 

gramofone

O texto DELETE O MP3 DE SUA VIDA, de Luís Antônio Giron, colunista da Revista Época é primoroso. Concordo em quase 100%.

Ouvi João e Maria (Hänsel und Gretel) pela primeira vez ainda muito pequeno, na casa do meu avô. Em um 78 rotações. Incrivelmente, esta foi a relíquia herdada do velho de olhos azuis: a coleção em 78 rpm, com 4 discos (novinhos, sem riscos), impressos na Alemanha e com catálogo de 45 página em alemão – que não entendo bulhufas, ok. É a ópera de Engelbert Humperdinck, lançada pela Deutsche Grammophon, em 1952. Este álbum/encarte aqui é de 14 de maio de 1953!

Passados os anos, cultivei a paixão pela música. Lembro de vários LPs e fitas cassetes comprados, herdados, emprestados (e devolvidos!) ao longo dos anos. Procurei prestar atenção nos detalhes, e às vezes me sentia “presente” em alguns shows.

Com o tempo, de fato, aderi ao CD. E percebi que já não era mais a mesma coisa. Hoje, tenho alguns MP3, triviais, normais. Mas também raridades, como algumas gravações do Noel Rosa e do Cartola que, fora isto, não fossem os recursos atuais, jamais teria acesso.

É neste ponto que quase concordo em 100% com o Luís Antônio Giron, um dos poucos críticos a que dou ouvidos, quem sempre li e prestei atenção ao longo dos anos.

Ter acesso às obras! Infelizmente, nem todo mundo pode ir à Capela Sistina, nem aos grandes concertos no Brasil, muito menos mundo afora. Pudera todos tivessem acesso a gravações raras, seja em discos de cera, 78 ou LPs.

É uma questão cultural, que alguns poucos sempre tiveram acesso. Como na educação. Talvez o paralelo caiba aqui – discordem os estudiosos, por favor: mas ouvir um concerto ao vivo nas melhores casas de espetáculo do mundo é como ter assistido a uma aula do professor Paulo Freire.

Talvez o MP3 esteja para a música como o ensino esta para a educação a distância. Mas, ressalto, são meios, válidos, a que muitos têm acesso hoje em dia. Nem todo mundo pode ir à Sistina, como poucos tiveram o privilégio de ir ao Colégio Oswaldo Cruz.

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Curiosamente, mas no mesmo contexto, pensei outro dia sobre este vendaval de MP3 e sons rodando prá cá e prá lá.

A história começou quando recebi uma lista de sites, através dos quais poderia baixar e ouvir um zilhão de músicas. Não fiz. Primeiro por que as listas não mostravam opções agradáveis e interessantes. Depois por achar uma tremenda sacanagem com àqueles caras que ‘carregam o piano’, e que quase não vêm a cor das verdinhas que, aliás, é um dinheiro fácil que rola para os piratas e donos destes sites na internet, claro.

Por fim, fui “convidado” a ouvir o novo trabalho do Flávio Venturini, com indicação para o site do novo CD dele: http://www.flavioventurini.com.br. Este é um músico de respeito e bem definidamente um mestre em melodia. É daqueles que a gente pode fazer a analogia com Pelé, Garrincha e Didi. No campo da música, sabe tratar bem da pelota.

Aí caiu a ficha: esta forma de se conhecer o trabalho novo de um artista é interessante, porém... Veja bem, se eu ouvir todas as músicas no site, vou comprar o CD? Eu vou, porque sou fã, gosto também de ter CD (físico), mais do que muitos sons em MP3. Mas a grande massa vai mesmo ouvir pelo site a acabou.

Resolvi comentar isto com o Maestro Billy, um músico que tem realizado trabalhos de excelente qualidade, com pesquisa refinada. Pra quem não conhece: ouça a Rádio Heineken, no podcast Volta ao Mundo, e o seu Programa ADD.

A questão que sempre me deixou cabreiro foi a dos direitos autorais, a remuneração dos músicos. Uma velha discussão que todo mundo conhece desde os tempos de Ari Barroso, Villa-Lobos e Tom Jobim e outros que brigaram pela causa e por seus direitos. Até aí, nada de novo. Mas com a onda do baixa aqui e acolá, MP3 pra lá e pra cá, como fica isto?

Sem desvirtuar as palavras virtuais do Billy (enviadas por e-mail), destaco algumas de suas ponderações:

“No caso dos podcasts, o ADD incluso, o artista ganha dinheiro, pois pagamos um valor mensal para o ECAD. Assim, o ECAD distribui o valor arrecadado entre os artistas que tocamos. Ainda falta muito, ainda é muito incipiente, e nem acho que esse é o melhor modelo de negócio. É só um primeiro modelo, já que até ano passado, aqui no Brasil, não tínhamos nada”.

Ele destaca que também falta conversar com as editoras e ter um modelo de remuneração como existe na Trama Virtual, onde você é impactado por uma propaganda antes de ouvir/baixar o som. “Quem faz a propaganda paga um valor para a banda quando o consumidor ouve ou baixa a música após ver a propaganda. Acho esse modelo bem interessante, até porque só tem 3 lados: o artista, a Trama e a empresa patrocinadora”, diz o Maestro.

E finaliza com a síntese do que eu penso sobre MP3 – além da qualidade discorrida antes: “No caso do podcaster, tem o ECAD, as associações de autores, a lista de músicas que mandamos para o ECAD, toda a burocracia interna deles, e, finalmente, o autor da música. Pro autor não ganhar nada, é fácil...”.

Penso que o MP3 não seja ruim apenas aos ouvidos. É também para o bolso. Dos músicos, pelo menos.

E tem mais: Leia no Almanaque do Malu o texto “MP3, Giron e bafafá em ré maior”, sobre o certo movimento das gravadoras para a volta ao formato “bolachão”.

Um comentário:

Maestro Billy disse...

Excelente post, Rick. Muito boa sua análise.